Camillo e o filho, Luiz Carlos
Hoje, 8 de setembro, completam-se 100 anos do nascimento de Camillo de Jesus Lima. Poeta, escritor, jornalista, professor e político que foi ainda comunista, crítico, polêmico, boêmio, amigo e pai. Nasceu em Caetité e morreu, em 3 de março de 1975, após ser atropelado em Itapetinga. Além de Caetité, Camillo morou em Vitória da Conquista e em Macarani.

Um bilhete para a filha Albion
Por onde passou, ele deixou mais que sua contribuição literária – foi um participante político. “Por toda a vida ele defendeu os humilhados e os menos favorecidos. Ele detestava a exploração do homem pelo homem. Zélia Saldanha disse, em certa ocasião, que Camillo era o poeta da liberdade. Ele nos deixou um legado muito grande e é motivo de muito orgulho para nós familiares”, afirma o filho Luiz Carlos. “A sua única arma era a caneta. Ele era ferino com a caneta”, ressalta o filho.
A arma de Camillo o fez cair nas mãos da ditadura. Ele foi levado de Conquista para Salvador na ocasião do golpe militar de 1964. “Ele foi o maior poeta social do século XX”, afirma o historiador Ruy Medeiros. “E não foi somente poeta, deixou contos, crônicas, ensaios e uma série de peças em prosa que merecem ser revisitadas, inclusive a sua crítica. Foi um homem que se envolveu nas questões de seu tempo e produziu quanto a essas questões uma obra que merece ser revisitada, lida e relida hoje até mesmo para compreendermos a situação do mundo e de Conquista”, argumenta.
“Ele foi muito conhecido na sua época, mas se tornou esquecido e desconhecido para a geração pós a década de 1980″, aponta o historiador. “É um grande poeta brasileiro que precisa ser redescoberto, pois tem uma dimensão enorme para a nossa literatura”. Na década de 1940, foi considerado “o maior poeta moço do Brasil” pela Academia Carioca de Letras.
HOMENAGENS – As cidades onde Camillo morou estão festejando o seu centenário. O Centro de Cultura de Vitória da Conquista, que carrega o nome do escritor, montou uma programação com diversas formas de expressão, apresentadas entre os dias 4 e 6 de setembro. Fotografia, pintura, dança, vídeo e música homenagearam o poeta.

Gutemba prepara disco “Destino de cigarra”
O cantor e compositor conquistense Gutemberg Vieira foi um responsáveis pela homenagem. Ele montou um show a partir de poesias de Camillo, denominado “Destino de Cigarra”. “Em 1989 tive contato com o livro ‘Antologia poética’, e fui lendo e admirando a obra. Ao longo desse tempo eu musiquei algumas poesias, e em 2009 eu resolvi continuar para apresentar em 2012, eu já tinha umas onze músicas e fiz mais onze. Agora vamos selecionar e gravar um disco para tentar lançar até o final do ano”, conta o cantor.

Obras de Julio Veredas representam poesias de Camillo
Na sua cidade natal, as homenagens acontecem na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Entre os dias 12 e 14 de setembro, um evento discute a obra dos baianos Jorge Amado e Camillo  de Jesus Lima, com a participação de pesquisadores e acadêmicos. Ruy Medeiros, Heleusa Câmara e Carlos Jeovah irão participar.
Em Macarani, o desfile de sete de setembro foi dedicado ao escritor, com a presença dos seus dois filhos. No próximo dia 20, será realizado um Sarau Literário no salão paroquial da cidade. Até o final do ano, a Casa da Cultura de Vitória da Conquista e o Museu Pedagógico da Uesb também realizarão eventos em homenagem ao centenário.
OBRA INÉDITA – A Casa da Cultura de Vitória da Conquista, em parceria com a Assembleia Legislativa da Bahia, deve lançar até o final do ano os primeiro volumes de uma série que deve reunir a obra completa de Camillo de Jesus Lima. Ao todo são sete volumes, tomando como base, principalmente, as duas mil páginas de escritos inéditos.
MORTE E MISTÉRIO – Até hoje, a família de Camillo pergunta-se como de fato aconteceu o acidente que o vitimou. Segundo o filho, nunca deram uma explicação formal e quando  procuraram pelo motorista do ônibus que atropelou o poeta, ele simplesmente desaparecera. A única coisa que sabem é que Camillo foi alcançado por um ônibus em alta velocidade ao descer de um veículo do tipo Kombi. Ele chegou a ficar internado em Itapetinga, mas não sobrevivera.