Sobre Camillo



Dedé,
fique à vontade. Será uma honra para mim, participar de qualquer forma dessa homenagem, ainda que seja apresentando a Luiz a minha solidariedade aos nossos conterrâneos, nessa justa manijfestação de louvor à memória do poeta Camillo de Jesus Lima.
Forte abraço.
Beto.
 
...
Beto, obrigado....posso repassar este e-mail para o Luiz? Um abração.


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Dedé,
que alegria me traz a sua mensagem. Primeiro, porque vem de você, amigo de infância, que sempre demonstrou muito apreço por nossa história pessoal. O tempo e a distância física, realmente, jamais foram causa de esquecimento da nossa amizade (ou não seria, de fato, amizade). Depois, porque você se apresenta, a cada dia, como mais um poeta da minha terra, cultivando o hábito de escrever, desde quando, muito jovens, ainda lá morávamos. Por último, por tratar dessa personagem histórica não só de Macarani, como da região e da própria Bahia - Camillo de Jesus Lima.
O Sr. Camillo faz parte das minhas mais remotas lembranças infantis, mesmo porque meu pai o substituía, como oficial, no Registro de Imóveis da nossa Comarca, quando ele frequentemente se ausentava para Vitória da Conquista, cidade onde pôde o poeta, melhor que entre nós, desenvolver sua veia poética. Lá, ele é muito reconhecido e tem sido bastante homenageado. O principal Centro Cultural conquistense tem o seu nome.
Lembro-me bem que, quando deixei o Ginásio São Pedro e fui estudar em V. da Conquista, no Instituto Educacional Euclides Dantas, o meu professor de português (Dr. Clodoaldo Espínola) encarregou-nos de um trabalho sobre o conceito de literatura. Pedi "socorro", então, a meu avô Elpídio, que, ao invés de me orientar, recorreu ao Sr. Camillo, sabedor de que ali se encontrava a fonte mais limpa para a minha tarefa escolar. E o Sr. Camillo, poeta e versado nessa matéria, terminou redigindo um belo texto que me foi enviado. Até hoje, lamento o extravio dessa composição. Era uma peça que merecia ter sido preservada, pelo elevado valor intelectual do seu autor.
É a vida... Pelo caminho da nossa existência, vão ficando pedaços de nós. É difícil atravessar todas as tormentas desta viagem, sem perdas. Só o que não podemos permitir que se percam, são os nossos sentimentos mais elevados. Estes devem ir conosco para o túmulo.
Lembro-me, ainda, do dia da morte do poeta, ocorrida, tragicamente, em Itapetinga. Ele foi bestamente atropelado por um ônibus, em frente ao parque de exposições agropecuárias da cidade. O seu féretro foi em Vitória da Conquista, na loja maçônica. E eu estive presente à bonita e comovente homenagem fúnbre que lhe prestaram os irmãos da Ordem a que ele pertencia.
Enfim, fico feliz em ver a sua homenagem ao saudoso poeta Camillo. Gostaria eu, de ter alguma homenagem a prestar-lhe nessa ocasião. De qualquer modo, se eu tivesse o contato de Luiz, poderia remeter-lhe os meus votos de justo louvor à memória de seu pai.
Parabéns para você, parabéns para Macarani, parabéns para a família do Sr. Camillo.
Forte abraço do amigo
Beto.

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Beto, grande amigo, tudo bem?  Vai ser realizado amanhã em Macarani um "sarau" em homenagem a Sr. Camilo de Jesus Lima. Recebi um convite do Luiz. Como não posso estar presente , estou enviando pra ele  esta  "poesia" que escrevi em 1969... Que vc acha?  Um abração. Dedé



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Homenagem a Um Poeta


Outro dia versos escrevi
Alusivos às coisas de cima,
Bato na cabeça; esqueci-me.
De   Camilo de Jesus Lima.


Versos seus não canso de ler.
Passo horas e horas olhando-os.
Como são lindos de envolver,
Não importo, fico dias repassando-os.


Lendo seus versos vejo a injusta maldade
Reinante em nossa “Terra Varonil”,
A você seria dado com hombridade o título,
Poeta Injustiçado do Brasil.


Suas obras só são despercebidas,
Por gente sem sentimento e conceito,
Se vêem  quão são polidas,
Guardarão eternamente dentro do peito.


É simples a minha eloquência,
Referente à tão íntegra personalidade,
Só faço ver a minha consciência,
Que não penso só em futilidade.


Desculpe-me tê-lo tratado de você.
Por assim ter mais intimidade.
Faço isso para mais perto ter,
Esse poeta de incomparável integridade.


Macaraniense pare e veja quem passa
Do escritório para casa sob o sol febril,
Expondo o ar culto de sua graça,
CAMILO,      Grande Poeta do Brasil.

Alan Kardeck



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100Camillo: O poeta proletário





A partir de hoje, o Conversa de Balcão homenageará o centenário de Camillo de Jesus Lima, nascido em 08 de setembro de 1912. Até a data do seu aniversário de 100 anos, toda semana uma poesia de sua autoria será postada aqui no blog. Antes de começar, vamos conhecer um pouco sobre o homenageado e "cantemo u'a incelença prá êsse ilustre prufessô". 

Um dia ouvi Ruy Medeiros dizer que o maior poeta do século XX se chama Camilo de Jesus Lima. Em outro, descobri que a música de Elomar Figueira, Incelença Para Um Poeta Morto, foi feita em homenagem a Camilo na ocasião de sua morte. No entanto, se perguntar quem era o homem cujo nome foi dado ao Centro de Cultura de Vitória da Conquista, poucos saberão responder . Talvez muitos até saibam que ele é um famoso poeta, todavia, desconhecem a sua história, quanto mais a sua obra.



Camillo, ao contrário do que muitos imaginam, nasceu em Caetité e não em Vitória da Conquista. Veio morar em Conquista antes de completar seus 20 anos de idade, aqui se tornou poeta, virou jornalista, professor e político. Filho de Esther Fagundes da Silva e do professor e escritor Francisco Fagundes e sobrinho-neto do poeta Plínio de Lima, desde a infância descobrira seu talento para as letras: seu primeiro poema foi publicado no jornal “O Alvorecer”, da cidade de Condeúba, quando ainda tinha nove anos. Falava e escrevia corretamente em inglês, francês e espanhol, além de conhecer bem latim. Segundo ele próprio, teve apenas dois professores: seu pai e a vida. 

Em Conquista, se tornou amigo de intelectuais do campo político, da imprensa e das artes. Laudionor de Andrade Brasil, Erathósthenes Menezes, Clóvis Lima, Iolando Fonseca e Bruno Bacelar de Oliveira são alguns deles. Passou a colaborar com jornais locais e se aproximou dos ideais comunistas, procurando difundi-los pelas linhas que escrevia. Primeiro atuou em "O Combate", com poesias e crônicas. Depois, passou a integrar a equipe dos "O Jornal de Conquista", "O Conquistense", "O Sertanejo" e "A Tarde", este último de Salvador. 

Camillo, de pé ao fundo, na redação de O Combate
Em 1938, ao lado de outros intelectuais, fundou a Ala das Letras de Conquista, sendo o seu primeiro presidente. Neste mesmo ano, foi nomeado, pelo amigo e prefeito Dr. Régis Pacheco, Secretário da Prefeitura Municipal de Conquista, cargo que exerceu até 1945. Depois disso, passa a morar em Macarani, onde exerce as funções de Oficial de Registros de Imóveis e Hipotecas e de onde envia suas contribuições aos jornais de Conquista.

Com o livro “Poemas” venceu mais de 60 concorrentes no prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras, considerando o resultado a maior surpresa de sua vida. Na premiação é anunciado como “o maior poeta moço do Brasil”, na ocasião ele tinha apenas 31 anos. 

Adepto do comunismo, filiado ao Partido Comunista desde 1950, e se declarando poeta proletário, Camillo foi preso pela ditadura em 1964, em Macarani, sendo levado para a capital baiana, onde ficou por quatro meses. Escreveu até a sua morte, em 3 de março de 1975. Camillo de Jesus Lima morreu em Itapetinga, no Hospital Santa Maria, após ter sofrido um acidente dias antes: ao descer de uma Kombi, foi atingido por um ônibus em alta velocidade, arremessado contra o passeio da rua sofreu uma fratura na base do crânio.

Camillo foi casado com Miriam, com quem teve dois filhos, Luiz Carlos e Albion Helênica.

O poeta magro, com óculos de grossa armação, era um pouco gago e muito acanhado. Escrevendo se libertava, "canta pelos oprimidos e seu universo é povoado de famintos, de prostitutas, de retirantes e de revolucionários", como resumiu Zélia Saldanha, em 1987.

OBRA
As Trevas da Noite estão Passando (1941, com Laudionor Brasil)
Poemas (1942)
Viola Quebrada (1945)
Novos Poemas (1945)
Cantigas da Tarde Nevoenta (1955)
A Mão Nevada e Fria da Saudade (1971)
O Livro de Miriam (1973)

OBRA INÉDITA
Rio Abaixo 
Bonecos 
Soçaite em Três Variações
Espinhos e roseiras 
Poemas do Povo 
A Bruxa do Fogão Encerado 
Tristes Memórias do Professor Mamede Campelo

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Camillo de Jesus Lima nasceu em Caetité, aos  08 de setembro de 1.912, filho de Francisco Fagundes de Lima e D. Esther Fagundes da Silva. Mas seu sobrenome não seria Lima, e sim Fagundes, como consta do registro de nascimento.Era sobrinho-neto daquele que foi o nosso primeiro poeta: Plínio Augusto Xavier de Lima, e em sua homenagem alterou o sobrenome. Leciona no Colégio de Caetité, do Padre Palmeira - transferindo-se com este para Vitória da Conquista em 1939. Naquela cidade inicia movimentos literários. Comunista, foi preso durante a Ditadura Militar de 64, durante a qual é morto, em 1975, de forma nunca totalmente explicada.




Filho de Francisco Fagundes de Lima e D. Esther Fagundes da Silva trazia no sangue a estirpe de várias famílias tradicionais da cidade: Fagundes, Lima, Cotrim e Prisco. Mas seu sobrenome não seria Lima, e sim Fagundes, como consta do registro de nascimento. Era sobrinho-neto de Plínio Augusto Xavier de Lima, bardo que fizera fama noséculo XIX, colega de Faculdade de Direito de Castro Alves, no Recife. Plínio marcou a História de Caetité, por sua força nas palavras, pelo discurso pleno de ideais, num tempo em que a escravidão maculava a existência do país. Era um futuro promissor, um jovem cheio de planos e lutas, cedo interrompido pela morte que colhia os poetas de então.
Em 1915 seria Caetité elevado a sede de bispado. A cidade contava com uma educação que só tinha paralelo na capital Salvador: o Colégio Americano, protestante, e o Jesuíta São Luis Gonzaga, rivalizavam na formação de uma elite intelectual. O nome da cidade era proferido com orgulho, o Jornal A Penna circulava, mantendo acesa a vida cultural, enquanto fervilhava a vida política. Resumidamente, foi neste fervilhante cadinho cultural que nasceu o poeta.
Seu pai, o professor Chico Fagundes, homem circunspecto, devotado às leituras e ao magistério, era ateu convicto, que muito influenciou ao filho, e marcou na cidade por seu jeito distraído (Camillo dedica-lhe um poema em que revela ser ele um gênio incompreendido por não comungar a fé dominante e "ler Shakespeare no original"). Após alguns périplos volta a Caetité, onde se realiza a breve experiência do Colégio de Caetité, do Padre Luis Soares Palmeira (1935-1938), local onde pai e filho lecionam.
Transfere-se, depois, para Vitória da Conquista uma vez que a crise provocada pela seca de 1939/40 forçara a mudança do Colégio do Padre Palmeira, onde ensinava, para aquela cidade (motivo aparente, pois na verdade o que ocorreu foi um convite dos chefes políticos daquela cidade que, assim, visavam proporcionar uma educação de qualidade para seus filhos, como atesta Mozart Tanajura no histórico que fez daquela cidade, emancipada de Caetité em 1840). Ali Camillo produz sólidas amizades, que o acompanhariam por toda a vida, sempre no meio artístico e intelectual, sem perder, contudo, os laços afetivos com a terra natal.

[editar]Nasce o poeta

Como ocorria a todos os estudantes daqueles tempos, Camillo simpatiza com as idéias comunistas. Qual seu tio-avô Plínio de Lima, que abraçara a causa da igualdade entre os homens com o abolicionismo, Camillo defende uma sociedade mais justa, e irá pagar alto preço por isto.
Tornando-se tabelião ("oficial de registro de imóveis e hipotecas"), mora em Vitória da Conquista, Macarani e Itapetinga. Talentoso, desdobra-se em jornalistaescritorprofessor, deixando extensa obra literária, doromance ao conto, mas é na poesia que se consagra, já em 1942, com o livro Poemas, recebedor do Prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras (edição de "O Combate", que publicou quatro de seus livros).
Também publicou: As Trevas da Noite Estão Passando ("O Combate", em colaboração com Laudionor Brasil, poemas, 1941); Viola Quebrada ("O Combate", poesia, 1945); Novos Poemas ("O Combate", id., ib.);Cantigas da Tarde Nevoenta ("Edição de Artes Gráficas - Salvador", poesia); Memórias do Professor Mamede Campos (romance); A Mão Nevada e Fria da Saudade ("Edições MAR", poesia), A Bruxa do Fogão Encerado (contos); Vícios (contos); Bonecos (Perfis); O Livro de Miriam (Poesia, 1973, impresso na gráfica de "O Jornal de Conquista" para "edições MAR"); Cancioneiro do Vira-mundo (Poesia), e outros tantos escritos, publicados em todo o país, muitos ainda inéditos.
Mesmo longe dos centros culturais do país, Camillo fervilha com a pena na mão. Sua poesia plena de lirismo cativa, e tem em Vitória da Conquista, num tempo onde surgem Glauber Rocha, Elomar e outros, um meio artístico incomum, que, por produzir pensamentos, provocou reação junto àqueles para quem o pensar e a palavra eram armas perigosas, a ser combatidas…

[editar]O canto merece uma gaiola

Os homens aprisionam aves para assim disporem de seu canto. Esperam, desta forma, obter a recompensa da arte espontânea dos animais. Mas, que dizer de homens que se fazem animais irracionais a aprisionar outros homens para que não exibam seu canto?
O eclodir do Golpe Militar de 1964 mergulhou o Brasil em triste período de sombras. As primeiras vítimas do movimento foram os cérebros que produziam arte, que viam com sensibilidade o sofrimento de seu povo, e pensavam ser possível um mundo melhor.
Camillo era redator d'O Jornal de Conquista, e morava em Macarani, quando foi preso e levado para a Vitória da Conquista, onde já estavam detidos Pedral Sampaio (prefeito da cidade) e Reginaldo Santos (redator d'O Combate), dentre outros. Eis o resumo deste episódio, sob a descrição de Emiliano José (escritor e jornalista, autor da biografia de Marighella):
Os presos do 19º Batalhão de Caçadores, depois dum habeas corpus da Justiça Militar, foram transferidos secretamente para o Quartel de Amaralina, em Salvador. Ali, incomunicáveis, planejaram uma fuga, suspensa porque souberam da visita do General Ernesto Geisel, que por pressão do chefe da Comissão Geral de Inquéritos iria verificar as condições dos presídios.
Othon Jambeiro sugeriu que se colocasse um cartaz na cela, com os dizeres em italiano: "LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CHE ENTRATE", dizeres que Dante Alighieri colocara na porta do Inferno, em suaDivina Comédia, e que significa: deixai toda esperança, vós que entrais. Geisel, chegando, leu e perguntou quem colocara aquilo, e por quê. Jambeiro assumiu e contou-lhe a situação vivida ali. Surpreendendo os presos que não o sabiam culto, o severo militar perguntou: "Isso não é de Dante Alighieri?" e comentou: "Vejo que há algum intelectual aqui."
Foi então que o poeta Camillo de Jesus Lima adiantou-se e, sereno e firme, respondeu - "General, intelectuais somos todos os que aqui estamos. E intelectuais lutando por uma causa justa". Os fotógrafos que acompanhavam os vários repórteres presentes quando viram Lima se adiantar e começar a falar postaram-se para fotografá-lo (…) Lima, lembra Nudd David de Castro, quando chegou, e foi um dos últimos a chegar, representou uma espécie de bálsamo para a árida atmosfera que respiravam. Poeta sensível, pena refinada, amante inveterado, gostava de declamar os poemas dedicados às suas mulheres. "A chegada dele nos deu outro alento. Já estávamos cansados das mesmas caras. Ele deu outro ânimo à nossa convivência, com sua alegria, sua verve, seu bom humor, sua poesia", explica Castro." (grifamos).
Libertado, lança em 1973 O Livro de Miriam, dedicado a sua esposa, obra que, neste mesmo ano, em visita a sua Caetité natal, doa à Biblioteca Pública. Lá revê amigos, vive um pouco daquilo que todos os visitantes e filhos da terra moradores doutras paragens experimentam: a amizade, a alegria do reencontro… mas foi uma despedida.
De 1964 até sua morte, em 1975, Camillo jamais deve ter se reabilitado. Foi justamente naquele ano, quando o Brasil havia mergulhado no período mais negro da ditadura, com Geisel na Presidência, que as perseguições se acentuam. Morrem misteriosa e acidentalmente Anísio TeixeiraJuscelino KubitschekJoão Goulart… morre, misteriosamente atropelado em Itapetinga, o poeta Camillo de Jesus Lima, Caetiteense, como haveria de ser.

[editar]O que disseram de Camilo

"Temos um poeta, não há dúvida, em Camillo de Jesus Lima. Poeta às direitas. Sem artificialismo, sem amaneirado, sem pretenciosidade de criar escolas, nem renovar sistemas." CARLOS CHIACCHIO
"Sou admirador do seu talento. …continuei a cultuar seu nome entre os melhores poetas da Bahia." D. Martins de Oliveira.
"Tal é o sr. Camillo de Jesus Lima, que por sua arte e distinção intelectual se confirma nobremente entre os ilustres poetas brasileiros contemporâneos." Afonso Costa (Discurso de encerramento de sessão da Academia Carioca de Letras)
"La poesia de Camillo de Jesus Lima sorbe la savia que le impulsa y levanta en el torrente telúrico de su tierra. El corazón del pueblo brota como una flor humilde y grande, embellecido pela ternura del poeta."Artigas Milans Martínez.
O Sr. Luis Viana Filho, encaminhando à Biblioteca da Academia Brasileira de Letras o volume Cantigas da Tarde Nevoenta, de Camillo de Jesus Lima, disse que "o autor é um dos maiores poetas que a Bahia possui hoje, sem favor." Jornal do Comércio de 24 de maio de 1955."
"LIMA (Camilo de Jesus), poeta brasileiro, autor de Novos poemas (sem data), Viola quebrada (id.), Cantigas da tarde nevoenta (1955) e outros." Enciclopédia Larousse.
"Nasceu-nos um poeta"! Bem hajam a Camillo e a seus poemas." Afrânio Peixoto.
"Acho uma coisa formidável que a Bahia possua no interior do Estado provincianos (no melhor sentido do termo) e universais pelo conteúdo, dois poetas como Sosígens Costa e você." Jorge Amado.
Quando da fundação da Academia Caetiteense de Letras, em 2001, poucas pessoas falavam sobre este escritor. O nome de Camillo era quase desconhecido em sua terra natal e foi graças aos seus parentes, em especial D. Dagmar e o Sr. Silvio Prisco Vilasboas, que não deixaram morrer a memória de nosso maior poeta.
Silvio, eleito Emérito da ACL, é das principais atrações nos Encontros Literários, promovidos pela Academia em parceria com a Casa Anísio Teixeira e Uneb - sempre trazendo os versos do primo que a todos encanta e diverte, além de episódios familiares, como este:

"Camillo era gago. Minha mãe aconselhou a dele, dizendo-lhe que um susto poderia curar o problema. Tia Esther então esperou que o menino se distraísse, tomando café na cozinha e, pé-ante-pé, veio por trás e meteu-lhe com a colher de pau na cabeça. Dolorido e assustado com a atitude inesperada, exclamou para a mãe: "O i é e eu lhe fiz, mu'é?"
Em 2002 foi realizado o concorrido 6º Encontro Literário tendo como tema principal o poeta.

[editar]Versos de Camillo

Lançado em 1954Viola quebrada é um dos quatro poemas contidos no livro que lhe tem o nome. Todos os versos, feitos em estilo cordelístico, compõem uma homenagem ao poeta Catulo da Paixão Cearense - fazendo coro aos que louvavam a verdadeira revolução por este empreendida, ao trazer para a literatura o jeito de falar do homem do povo, no Brasil.
O poema Viola Quebrada narra o drama vivido por João Macambira, retirante da seca que, ao chegar numa cidade, tem sua viola despedaçada pelo delegado do lugar ("Velha formiga que não gosta de cigarras"). O excerto abaixo é um exemplo de bom humor e genialidade de Camillo:
Da viola pra muié
É pequena a deferença.
Ancê óia, escuta e pensa.
Eu juro, esta fala é franca:
A viola tem cabelo
Nas dez corda qui ela tem.
Tale quale uma muié,
Ela tem braço também
E tem cintura e tem anca.
A viola faz chorá
E chora a hora qui qué.
Tale quale uma muié,
Derrete toda na mão
Da pessôa qui qué bem.
Só inziste duas cousa
Qui ela tem e muié não:
É qui a viola de pinho
Tem alma e tem coração…
  • Observação: O ator e cantor Saulo Laranjeira, que interpreta um deputado em A Praça é Nossa do SBT, gravou uma versão deste poema, além de haver transformado o João Macambira numa das suas personagens.

Tentando conhecer alguns traços importantes da vida do poeta Camillo de Jesus Lima, José Leite (1945), ainda na matéria para a revista cooperação, buscou descrever o ambiente em que vivia o escritor e mencionou o que viu:

O seu gabinete de estudos, modesto, de uma modéstica elegante. Uma ordem que, de tão ordenada é quase irritante. Tudo ali parece alinhado sob medida. Uma mesa grande atravessada na sala, livros e papéis em lugares certos, dispostos como em escala cromática, onde o tato do poeta conhece as suas cousas até no escuro. Em cima da mesa, do lado esquerdo, o retrato de Luis Carlos (Prestes). Do lado direito Castro Alves, o poeta preferido de Camillo e a quem reputa o maior gênio da raça. E num ângulo aberto entre os livros da mesa, a fisionomia de Jorge Amado, como saindo da moldura para conversar com o poeta. Apontando para os três retratos Camillo de Jesus Lima explica: O meu revolucionário, o meu poeta, e o meu romancista. (LEITE, 1945).

O professor Ruy Medeiros escreve sobre os "Jornais Conquistenses do passado":

Em gesto ousado, Camillo de Jesus Lima, nas páginas de "O Combate" declara-se comunista e Laudionor Brasil não cria empecilhos ao poeta para publicar suas poesias panfletárias em favor do socialismo. É bem verdade que algumas são de mensagens políticas, mas não tem sabor de panfleto. O jornal publica declarações de Prestes e de Marighela por eleições livres, noticias de forma candente o próximo comício de Prestes, em 15 de Julho de 1945. A instalação do PC na Bahia é noticiada. O jornal, agora, suporta equeilibrio: apoia candidatos do PSD, mas publicas textos elogiosos a Prestes e ao socialismo. Viveu como pode essa aliança estranha (MEDEIROS, 2009).  

Carta de Afrânio Coutinho em 05 de Novembro de 1959, RJ:

Com grande satisfação informo-lhe que estou trabalhando na confecção de um livro, com o título Brasil e brasileiros de hoje, que conterá nomes e biografias de todos aqueles que, com suas atividades, estão promovendo em grande escala, o desenvolvimento do Brasil. Sua atuação no território cultural, revelando-se das mais proveitosas, tem posto o seu nome ao respeito dos seus patrícios. Assim, a sua biografia se tornará imprescindível na presente obra.


Um trabalho Crítico mais detalhado foi elaborado por Zélia Saldanha em cuja análise realça o lado "bem comportado" e o lado "rebelde" do poeta:


Eu costumo distinguir na obra de Camillo dois lados em sua poética. Eu chamaria de poeta bem comportado, num bom sentido, quer dizer, um poeta aplicado, um poeta que trabalhava sua obra dentro de uma técnica específica, sem se tornar um diferente ou um alienado dentro da própria série literária. Camillo sabia vestir o seu poema com a forma certa na hora certa. Tanto assim é que, sempre que o lirismo se apoderava da sua emoção, num momento de extravasar qualquer sentimento interior pessoal ele fazia o uso da métrica tradicional (...) Ele não exercitou o verso livre, e fez uso do verso livre nos momentos em que aparecia o poeta rebelde, o poeta que fazia o uso da palavra ação, de uma palavra de persuasão, de uma palavra revolucionária. 
Zélia Saldanha, 1987:


Camillo canta pelos oprimidos e seu universo é povoado de famintos, de prostitutas, de retirantes e de revolucionários.


Lêda Nova disse sobre Camillo:

Camillo de Jesus Lima - 08/09/2005

NOVENTA E TRÊS ANOS POETA
Joga os braços para o chão a moenda desanimada, cantada de tanto trabalhar. O último curió, no alto da palmeira, abre o bico a cantar uma saudade brasileira. A cantar ou a chorar?...”
(Ao pé da Casa Grande — Camillo de Jesus Lima)
         A cantar ou a chorar?
         Ainda não se tem a resposta.
        A pergunta original foi formulada há cerca de trinta anos e as palavras até agora se demonstram insuficientes para expressar a dor e o embaraço dos amigos e admiradores do grande Camillo de Jesus Lima, que hoje — 08 de setembro de 2005 — completaria 93 anos, se não tivesse falecido — e se ido, tão cedo!
        Dor pela perda e saudade do homem e do artista, tal qual o lamento do curió poeta. Pasmo e perturbação diante da inoperância dos órgãos públicos em finalizar oplano de divulgação da obra inédita de Camillo de Jesus Lima — de três romances e cinco livros de poemas e crônicas políticas.
        Esse projeto — iniciativa da Casa da Cultura de Vitória da Conquista — foi apresentado ao Município de Vitória da Conquista durante o último mandato do então prefeito José Pedral Sampaio. Regularmente aprovado, uma comissão chegou a compilar toda a obra. A partir daí o feito paralisou, inclusive a tramitação do processo no Ministério da Cultura, para liberação de recursos para edição.
        No dia em que seria o nonagésimo terceiro aniversário de Camillo de Jesus Lima, a Casa da Cultura de Vitória da Conquista, a Academia Conquistense de Letras e a República das Letras apresentam protesto ante o descaso das autoridades competentes para a operacionalização do empreendimento de divulgação da produção literária de Camillo de Jesus Lima — e prestam um tributo de louvor ao inesquecível escritor.
        Em 08 de setembro de 1912, na cidade de Caetité-Bahia, nascia Camillo de Jesus Lima — uma pessoa especial, que soube delinear seu nome e sua conduta na história do país, das letras e das artes.
        Muito embora com baixa escolaridade, somente até o na época denominado curso ginasialCamilo de Jesus Lima foi professor de português, falava e escrevia correta e fluentemente os idiomas inglês, francês, castelhano, e até o latim — e tradutor de poemas gregos e latinos.
        Um dos primeiros integrantes do Partido Comunista da Bahia — e amigo íntimo de Carlos Prestes, para quem escreveu Cartas a Carlos Prestes, obra apreendida, e desaparecida, pelos militares da revolução de 1964 — ficou o poeta preso em cárcere, quatro meses, por denúncia de subversão.
        Brilhante jornalista, foi redator dos jornais O Combate e O Jornal de Conquista; e colaborador de O Conquistense e O Sertanejo. Como correspondente especial do JornalA Tarde, da cidade de Salvador, entrevistou Pablo Neruda, quando em visita ao país na década de 1940 — mais uma das personalidades ilustres que viria a fazer parte do rol de amizade íntima de Camillo de Jesus Lima, ao lado de Jorge Amado, Graciliano Ramos e tantos outros.
        Em 1938 criou a Ala de Letras de Vitória da Conquista, filiada à Ala de Letras de Salvador, entidade que se manteve infelizmente por somente sete anos — e que agora a República das Letras revive e enaltece.
        Quando governador da Bahia, o acadêmico Luis Viana Filho o indicou para integrar a Academia Brasileira de Letras, entretanto Camillo não preencheu sequer os documentos de inscrição, avesso aos ambientes ditos empoeirados e intelectuais.
        Prematuramente, em fevereiro de 1975, Camillo de Jesus Lima faleceu tragicamente em acidente de carro, deixando mais de duas mil e quinhentas (2.500) páginas escritas — de poemas e crônicas, a maior parte de cunho político — acervo maior do que as duas obras juntas dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles.
        Afim do seu perfil simples, quando ainda em vida o trabalho de Camillo de Jesus Lima foi impresso de forma amadora, com poucos cinqüenta exemplares, somente para os amigos, e divulgado nos espaços dos jornais que trabalhava — e copiado a mão.
        Ironicamente foi além-mares que aconteceu a aclamação pública — e a França, Espanha e países do bloco então comunista publicaram e declamaram a prosa e verso de Camillo de Jesus Lima — apesar de em 1944 a Academia Carioca de Letrastimidamente editar um conjunto de sua obra.
        Logo após seu falecimento, Elomar Figueira prestou uma homenagem de letra e música ao escritor — Excelência Para um Morto — apresentada pela primeira vez na Loja Maçônica Fraternidade Conquistense, instituição que teve o escritor como um dos fundadores, e que o velou.
        Em 1988 a Casa da Cultura de Vitória da Conquista fez uma enquete pelas rádios locais e o nome de Camilo de Jesus Lima foi o vencedor, por maioria, para nominar oCentro de Cultura que surgia.
“...Contar histórias de princesas mortas, de reis e mouras tortas aos meninos do engenho...”
(Ao pé da Casa Grande — Camillo de Jesus Lima)
            Poeta, Camillo de Jesus Lima efetivamente não se foi, nem mesmo compareceu a seu próprio velório. Permanece vivo em suas letras e feitos imortais, a lembrar de reinos encantados, de princesas e crianças de moenda, da fome do corpo e da alma, da dor da perda e da tortura e de uma luz que por certo seus olhos iluminados sempre estão a conduzir.
        E porque Camillo de Jesus Lima — como ninguém — soube fazer, viver e enobrecer a vida, as letras e a arte — a Casa da Cultura de Vitória da Conquista, aAcademia Conquistense de Letras e a República das Letras  lançam um apelo veemente às autoridades públicas. Em especial ao prefeito José Raimundo Fontes — que se torna ainda mais responsável pela sua condição de intelectual — para dar continuidade e finalizar o projeto de divulgação da produção literária de Camillo de Jesus Lima, emRECONHECIMENTO AO MÉRITO DO NOTÁVEL E SAUDOSO ESCRITOR.
Em 08 de setembro de 2005


Algumas Opiniões sobre Camillo:

Camillo revive o tipo gentil do troveiro medieval nesses tempos
em que tanto se fala de retorno a idade média. Além do dom evo-
cativo de formas galantes da poesia, dispõe o artista de prestigio
novo das realizações atuais.
                                                      Carlos Chiacchio.

O poeta é todo simplicidade, todo sinceridade, sem esse falso sorriso
dos poetas que agente encontra por aí.
                                                 Hilton Rocha

Camillo de Jesus Lima honrra, ao lado de Carvalho Filho e Sogígenes Costa,
a mais alta fileira dos poetas Bahianos sobreviventes ao imortal Artur de Sales.
                                                 J. Eurico Maia

Você é sempre o grande poeta lírico cuja espiração se agita em vôos altos que so
os espiritos de eleição podem atingir.
         Prado Ribeiro (Academia Carioca de Letras)

Camillo de Jesus Lima tem sensibilidade e talento. Sua poesia é universal e humana.
Nestas CANTIGAS DA TARDE NEVOENTA encontramos fascinados um pouco de todas
as escolas poéticas. Romântico, simbolista, parnasiano, modernista, ele é, sobre tudo,
poeta, no bom sentido da palavra.
                                             Martins Capistrano

Li seus versos, cantantes, amenos, fáceis, às vezes profundos...
                                                Afrânio Peixoto

Acho uma coisa formidavel que a Bahia possui, no interior do Estado, provicianos
(no bom sentido do termo) e universais pelo conteúdo, dois poetas como Sosígenos Costa e você.
                                              Jorge Amado

... o poeta Camillo de Jesus Lima que é indubitavelmente, um dos maiores poetas vivos da Bahia.
                                            Muniz Bandeira

... Força e Originalidade, os traços marcantes de Camillo de Jesus Lima. Bilac, em "Musica Brasileira", não está mais belo que Camillo, em sua "Lingua Brasileira".
                                             Carlos Chiacchio

Foi uma grande alegria para mim conhecer seu espiríto...
                                           Menotti Del Picchia

Toda a vossa obra poetica ostenta o luxo das vossas riquezas mentais.
Culplido De Santana (Academia Carioca de Letras)

São versos deveras intensos e poderosos estes do poeta Camillo de Jesus Lima.
                                     Wilson Lins

A poesia de Camillo de Jesus Lima guarda uma unidade que se reflete em todos os seus poemas, quer sejam naqueles onde prefiriu os moldes modernos ou nos que procuram nas velhas formas alguma coisa que ainda por lá exista de inédito e surpreendente.
                                   Lafaiete Spinola

Minhas felicitações pelo seu estro brilhante e brilhante inspiração.
                                       Catulo da Paixão Cearense




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CRONOLOGIA DA VIDA E DA OBRA DE CAMILLO DE JESUS LIMA - Mozart Tanajura



1912 - Nasce a 8 de setembro na cidade de Caetité, tida  na época como a “Corte do Sertão”. Filho de Francisco Fagundes de Lima e Ester Borba de Fagundes. Sobrinho neto do poeta Plínio de Lima de quem estava escrevendo a biografia, ao falecer. De sua cidade natal guarda as recordações da infância, que evocaria, depois, na maturidade, num poema que se tornou famoso pela irreverência como tratou o velho burgo baiano.



1918 – Muda com seus pais de Caetité, e passa a residir em várias localidades do Sudoeste da Bahia e Norte de Minas Gerais, onde o professor Fagundes vai ganhando a vida como professor particular.  Nesse ínterim, o futuro poeta recebe lições de seu pai, seu primeiro mestre e guia espiritual. Vive em Caculé, Condeúba, Tremendal, São João do Alípio, Monte Verde, São João do Paraíso e Encruzilhada. O menino poeta, esperto e inteligente, tudo observa e cria seus primeiros poemas, datados de vários locais por onde perambula com seus genitores. Costumava dizer que só teve dois professores: seu pai, verdadeiro mascate da cultura, e a vida.



1921 – Com a idade de 9 anos publica sua primeira poesia, um poema sobre o Natal, no semanário “O Alvorecer”, da cidade de Condeúba, por sugestão de seu pai, que via com bons olhos o futuro intelectual de seu filho.



1926 – Reside, na Vila de Caculé. Por essa época, menino de 14 anos, “pálido e acanhado”, como ele mesmo se referiu numa crônica, começam a vir a tona os seus primeiros pendores literários. Inspirado por uma reportagem de “O Jornal” que denunciava os maus tratos aos revolucionários brasileiros, exilados na Bolívia, ainda sob o comando de Carlos Prestes, escreve um longo poema em que exalta a figura do famoso chefe socialista. Este poema, inçado de falhas, segundo sua opinião de poeta já consagrado, não foi publicado por ele, perdendo entre os originais de suas primeiras poesias.



1928 - Em São João do Paraíso, onde se encontra com os pais, namora, diz ele, “uma menina de olhos de conta e carinha de lua, sem dúvida a garota mais linda do arraial de São João do Paraíso” - presença permanente em todas as suas horas de recordação e de saudade. Escreve o soneto parnasiano “Almas Lilás”, que publica no semanário da cidade de Espinosa, Minas Gerais e muitas outras poesias de adolescência que não publica. Anota posteriormente: “Perdi algumas poesias que escrevi em São João do Paraíso, de 1928. Minhas primeiras poesias. Versos de 16 anos de uma vida que se tornou complicada e sofrida”.



1929 – Transfere-se com a família de São João do Paraíso para Encruzilhada, Bahia. Conhece uma adolescente, Nair, que lhe inspira e a quem dedica muitas poesias, mas não é correspondido.



1930 - De Tremedal dos Ferraz, onde se encontra, envia para o jornal “Avante” de Conquista o soneto “A Cegonha”, que é publicado com grandes elogios pelo jornalista Bruno Bacelar de Oliveira, diretor-proprietário daquele semanário, desaparecido em 1931 por um incêndio criminoso.



1935 – Transfere-se, definitivamente, com a família para Conquista. Nesta cidade faz grandes amizades e colabora com a imprensa da localidade, encontrando um vasto campo para o seu aprimoramento intelectual. Entre seus amigos se encontram: Laudionor de Andrade Brasil, Erathósthenes Menezes, Clóvis Lima, Iolando Fonseca e Bruno Bacelar de Oliveira. Um seu poema “De...verso”, é premiado em 1º lugar na seção “Vamos rir” da revista “Vamos ler”, editada no Rio de Janeiro, tornando um dos seus colaboradores. Colabora, posteriormente, com as revistas “Leitura”, província de São Pedro, “O Malho”, Terra Branca, “Revista do Jornal e do Diário A Tarde”, de Salvador



1936 – Fica noivo de Maria José dos Santos Lima (Mirian) que namorava há um ano. anota em seu caderno de confidências: “Em agosto de 1935 comecei a gostar de Mirian. Teria sido uma ressurreição de alma?”



1938 - Conhece Carlos Chiachio, o grande crítico do modernismo baiano, e, por sugestão deste, funda com outros intelectuais conquistenses a Ala das Letras de Conquista, e é aclamado seu primeiro e único presidente. A fundação de uma Academia de Letras, num meio ainda não propício às manifestações literárias, gerou controvérsias e apuros de toda natureza, desde a falta de apoio da sociedade local, que via no grupo uma turma de “petulantes sonhadores”, até mesmo críticas de órgãos de comunicação dos meios desenvolvidos. As primeiras dificuldades são vencidas e o seu presidente conseguiu desenvolver uma intensa programação cultural nas áreas das letras e das artes, pregando, também, por uma sociedade livre de preconceitos.

Neste mesmo ano é nomeado Secretário da Prefeitura Municipal de Conquista pelo seu amigo e prefeito Dr. Régis Pacheco, cargo que exerce com sabedoria e honestidade até 1945.



1939 - Casa-se com Mirian às 20h do dia nove de dezembro, quando a rádio anunciava a Hora do Brasil. O casal teve dois filhos: Luiz Carlos, homenagem a Luiz Carlos Prestes, e Albion Helênica, outra homenagem à Inglaterra e à Grécia, na resistência contra o Nazismo.

Os originais do seu livro “Poemas” é apresentado pelo seu amigo Afrânio Peixoto aos editores Francisco Alves e Companhia Editora Nacional, sendo recusado, alegando que não editavam mais livro de versos, pois “os poetas novos tinham matado a poesia”, dizem os editores. O consagrado romancista de “Fruta do Mato” e “Sinhazinha” não é desta opinião, acha os versos de Camillo castos e amenos, às vezes profundos, merecendo impressão e aplausos. Devolve-lhe o livro depois de ter lido e aplaudido.



1940 - É admitido como redator-chefe do Semanário “O Combate”, editado em Conquista. Colabora intensamente com este jornal, ora com poemas, alguns traduzidos da literatura universal, ora com crônicas e artigos, a maioria de interesse cultural e regional. Inicia, nesta época, os textos biográficos sobre seu tio-avô Plínio de Lima, de quem pretende escrever toda biografia. Anota melancolicamente em seu caderno de memórias: “Só escrevi em 1940, 68 poesias. E... para que?” Com a indiferença das autoridades governamentais, a quem caberia promover a cultura e com a recusa de seus originais das duas principais editoras do seu país, o poeta se sente inferiorizado e lamentam a situação da sua arte numa sociedade avessa as expressões artísticas de seu povo.

Publica o seguinte anúncio em “O Combate” de 24/04: “Às terças, quintas e sábados, darei curso noturno, na minha residência, à Rua dos Fonsecas, das 19h às 20 ½  horas. Preparo alunos para exames de Admissão. Curso de História da Civilização, Português e Francês”.



1941 - Em 06 de março de 1941, recebe correspondência do Ministro da Polônia, Sr. Thadeu Showronski, agradecendo versos do poeta em solidariedade aos poloneses atingidos pela guerra. O poema em apreço – “Visão da Humanidade Nova” – exprime o sentimento da humanidade em prol daquele país sofrido.

Em 02 de maio recebe carta de Catulo da Paixão Cearense, agradecendo-lhe os versos de “Viola Quebrada” e o artigo que escreveu sobre ele, enaltecendo o autor de “O Luar do Sertão”. Sai pela Editora O Combate o livro de poemas “As trevas da noite estão passando”, em parceria com Laudionor Brasil. O livro traz uma homenagem a Carlos Chiachio que o analise num dos seus rodapés de A Tarde. Anota em seu caderno de confidencias: “Só escrevi 36 poesias em 1941. O infortúnio quase não me deixa sonhar”.



1942 - Concorre com o livro “Poemas” ao prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras e sai vitorioso, ao vencer mais de 60 concorrentes. Anota o poeta em seu caderno: “No ano de 1942 tive a maior surpresa da minha vida: a Academia Carioca de Letras comunicava-me ter sido contemplado com o prêmio Raul de Leoni, graças ao meu livro inédito intitulado “Poemas”. Não tinha recursos para ir buscar o prêmio no Rio. Meus amigos resolveram a questão, com uma lista. Custearam-me a viagem. Uma longa estada no Rio abriu-me os olhos para um mundo mais vasto e para uma vida diferente”. Divulga uma carta aberta a Plínio Salgado, veemente panfleto que fez jus a um incontido ódio da quinta coluna.



1943 - Vai ao Rio de Janeiro receber o prêmio Raul de Leoni. A Academia Carioca de Letras promove uma seção especial para receber “o maior poeta moço do Brasil”, título que lhe é outorgado pela mesma academia. O homenageado pronuncia um belo discurso, onde exalta as letras da província, demonstrando grande conhecimento dos movimentos culturais do país. Os acadêmicos cariocas ficam surpresos com o grau de cultura do jovem poeta sertanejo, que tão bem conhece a literatura e é capaz de expressar como um clássico, na língua de Camões.

Estando no Rio, é convidado pelo imortal Afrânio Peixoto para visitar a Academia Brasileira de Letras. Conhece a casa de Machado de Assis e os “animais raros” (os imortais), de que lhe fala Afrânio no convite-bilhete deixado no hotel onde estava hospedado.

Regressa do Rio via Belo Horizonte, embarca na terceira classe de um trem da Central até Montes Claros, onde toma uma condução para Caetité e daí viaja com destino à sua cidade.

Viajando na 3ª classe de um trem que demanda o Nordeste, sente o drama de muitos emigrantes, de prostitutas, mendigos, violeiros e vagabundos. Conhece a miséria de perto, que lhe inspira o seu famoso poema “Balada do Vira Mundo”, uma obra prima do seu cancioneiro.

De volta à sua terra, a sociedade conquistense presta-lhe uma homenagem fazendo jus ao poema que elevará a cidade aos mais distantes rincões da pátria, com a pujança de seus versos.

No mesmo ano é recebido festivamente em Nazaré pelo poeta Anísio Melhor que o saúda em nome do povo daquela terra. A Banda Erato da Cidade, solidária com a homenagem ao poeta baiano, executa trechos escolhidos do seu arquivo musical, estando presentes intelectuais e a mocidade amiga das letras. Comovido, o poeta declama o poema de sua autoria “Bendita sejas tu, Nazaré”.



1944 - Publica “Poemas”, livro impresso pela Editora Combate, edição fora do comércio, patrocinada pelos amigos do poeta. “Poemas” é dedicado a Erathósthenes Menezes, seu amigo maior. Seu primeiro livro publicado depois de “As trevas da noite estão passando”, é comentado por diversos intelectuais brasileiros, sendo todos unânimes em conhecer no autor um poeta verdadeiro, digno da poesia de Castro Alves, a quem costumava chamar de “Nosso Senhor Castro Alves”.



1945 - Ainda patrocinado pelos amigos, publica: “Viola Quebrada” (poemas regionais) e “Novos Poemas”. Escreve uma crônica que publica n’O Combate, edição de 24/05/1944, onde narra fatos de sua formação intelectual. Diz que ainda hoje faz muita farol à custa de seu pai. O primeiro livro que conheceu, antes de aprender a ler, foi pela mão de seu pai. “A Ilíada”, “A Odisséia”, as tragédias de Esquilo, as de Shakespeare, passagens da Bíblia, do Alcorão, tudo o seu pai lhe contava, à guisa de histórias de carochinha, nos modestos serões de várias terras por onde andou a sua infância curiosa e a maturidade atribulada de seu velho pai.



1946 - Reside em Macarani onde exerce as funções de Oficial de Registros de Imóveis e Hipotecas da Comarca. Sente-se bastante isolado naquele meio ainda inculto e sem nenhuma diversão. Lê muito e escreve pouco. De lá manda suas colaborações para os jornais de Conquista e Salvador. Mas quase sempre está em Conquista revendo amigos e trazendo ele próprio suas colaborações. O que lhe salva naquela solidão é uma biblioteca de seiscentos volumes que levou, alguns herdados de seu pai.



1950 - Filia-se ao Partido Comunista do Brasil, iniciando na imprensa local uma série de artigos de índole popular, a favor do regime socialista.



1953 - A Assembléia Legislativa da Bahia, através dos deputados Orlando Espínola e Raimundo Brito, lembra seu nome para concorrer a uma cadeira da Academia de Letras da Bahia, vaga com a morte de Antônio Viana. Sua candidatura é incentivada e lançada definitivamente pelo Diário da Bahia, de quem é assíduo colaborador. O poeta aceita e sua candidatura é oficializada, mas desiste em última hora já prevendo sua derrota, em face do poder de amizade de outros fortes concorrentes àquela casa.

1954 - Após uma ausência de 23 anos, o poeta volta a Caetité. E como bom filho, sente exaltada emoção ao pisar a terra de seu berço e ao contemplar as paisagens bem vividas de sua meninice. Ali, na bucólica paz de uma pequenina cidade de sertão, ele ensaiou os grandes vôos do pensamento e imaginou os seus primeiros poemas.



1955 - Lança pela editora S. A. Gráficas da Bahia o seu 4º livro de poemas: “Cantigas da Tarde Nevoenta”. O livro traz uma grande nota, onde ele afirma: ...“Destes poemas ao “Cancioneiro do Vira-mundo” há a separação de alguns anos, - dizia eu ao publicar “Novos Poemas” em 1945. “Cantiga da Tarde Nevoenta” liga minha poesia de maturidade, feita em função social. Em alguns poemas deste livro qualquer pessoa descobrirá o militante da luta por uma sociedade mais justa, que os meus leitores irão encontrar no “Cancioneiro do Vira Mundo”, em “Os Poemas da Noite”, “Os Poemas do Povo” e nos romances... se a vida tanto consentir... (C. de J.L.)”.

Licenciado do Cartório, exerce a crítica literária numa página de letras do jornal A Tarde, sob a sua responsabilidade. Recebe semanalmente, dezenas de livros de diversas partes do país, cujos autores anseiam pela sua apreciação. Seu endereço em Salvador, à rua Ismael Ribeiro, nº 22 - Tororó, é muito freqüentada por intelectuais e artistas.



1957 – O poeta Manuel Bandeira recebe o seu livro “Cantigas da Tarde Nevoenta” e lhe agradece, após uma leitura atenta, onde descobre um poeta irmão, vivendo no interior da Bahia. Além de Manuel Bandeira, outros intelectuais do Rio manifestam seu interesse pelo poeta baiano, já bastante conhecido nos centros acadêmicos de várias capitais brasileiras.



1958 – Em 15 de agosto circula pela primeira vez o semanário “O Jornal de Conquista”, fundado pelo seu amigo Aníbal Lopes Viana. Mantém estreita relação com o mesmo, colaborando, semanalmente até a sua morte.



1959 – Seus poemas da fase modernista e sociais são declamados para o povo num bairro pobre de Salvador (Liberdade), numa festa em praça pública que recebeu o nome de “Noite da Poesia”. Ele próprio declama alguns poemas e o povo aplaude com fervor.



1960 – Defende a colocação de um busto de Laudionor Brasil em uma das praças da cidade, em homenagem ao propulsor da cultura conquistense. Promove também homenagem idêntica ao poeta Manuel Fernandes de Oliveira (Maneca Grosso). Mas em ambas as sugestões não é atendido, estando ainda os dois poetas a merecer esta reverência do povo de Conquista.



1962 – Escreve para jornais locais sob diversos pseudônimos, facilmente identificados pelos seus leitores. Brás Cubas, Sinegundo Sales, Severo Sales, são alguns destes pseudônimos por detrás de quem vergasta a sociedade local nos seus erros e vícios ou humorisa no “castigat ridendo mores” (rindo corrige os costumes).

1964 – Em 11 de maio é preso pelo regime militar, juntamente com outros companheiros conquistenses e enviado para Salvador, onde fica encarcerado e incomunicável no presídio Monte Serrat. Redige, uma carta, datada de 20 de julho ao Capitão Antônio Bendocchi Alves Filho, atendendo à intimação para que devolva ao 19º BC (Batalhão Pirajá) rascunho do livro que está escrevendo, intitulado “Sol de Outono”.

Não ficando nada provado do envolvimento do poeta no movimento revolucionário brasileiro, é julgado livre e libertado.

Escreve o poema “Atrás das Grades”, vivido na prisão e que conservou inédito.



1969 – Termina em Macarani o romance “Tristes Memórias do Professor Mamede Campelo”, iniciado em Conquista em 1941. O romance constitui num retrato fiel da sociedade local dominada pelo regime liderado por Plínio Salgado.



1970 – Sem poder publicar nada, compõe e conserva inéditos os livros “Soçaite em Três Variações” e “Bonecos e Perfis”. Em seguida, “Poemas do Povo” que também fica inédito. Todos esses livros obedecem a temática crítico-social, em que o poeta denuncia as mazelas de um regime e extravasa seus sentimentos revolucionários.



1971 – Publica pelas Edições Mar, o livro de sonetos “A Mão Nevada e Fria da Saudade”. O livro é uma homenagem a vários amigos intelectuais, dentre eles Clóvis Lima, Jesus Gomes do Santos, Olegário Bastos, Aloísio de Carvalho Filho e Chagas Júnior.



1973 – Sai a lume sua última coletânea de poemas: “O Livro de Miriam”, numa pequena edição de 200 exemplares. Todos os poemas dedicados à sua esposa e exprimem várias passagens da vida do casal desde o seu noivado até àquela data.



1975 – Sofre um acidente que lhe rouba a vida, no dia 28 de fevereiro, às 9 horas, na cidade de Itapetinga. Ao descer de uma Kombi, foi atingido por um ônibus em alta velocidade. Seu corpo é arremessado contra o passeio da rua e sofre fratura na base do crânio. Conduzido para o hospital local, esteve entre a vida e a morte, durante um dia e meio. Morre às 2 horas da madrugada do dia 3 de março. Seus restos mortais são transferidos para Vitória da Conquista, onde é velado na sede da Loja Maçônica Fraternidade Conquistense, da qual foi um dos fundadores. Após as solenidades de praxe naquela casa, foi enterrado no cemitério local, atual Cemitério da Saudade, tendo o féretro sido acompanhado em grande número pelo povo, seus amigos e admiradores.



Mozart Tanajura







  

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