A Canção da Guerrilheira

10:53

Prendi meus cabelos com um lenço vermelho;
Alcei ao ombro o meu fuzil
E me pus a caminho, naquela tarde de sol
Em que disseram que êles viriam nos fazer escravos.

Minhas mãos que, antes, teciam, na fábrica, o linho mais puro,
E que tinham carícias de arminho se afagavam a face do homem amado
Quando voltava do campo,
Não tremeram de mêdo ao amarrarem na minha cabeça loira o meu
                                                                                              [ lenço vermelho.
Estavam nervosas apenas de ansiedade.

Eu não fiquei em casa como um traste inútil,
Enquanto, ao sol, êle semeava o trigo
Para que o pão não faltasse aos inválidos, às viúvas e aos órfãos dos
                                                                                              [ proletários.

Não! Eu não quis ficar á espera do guerrilheiro,
Como uma escrava inferior, enquanto êle se bate
Para que, no mundo, não haja escravo nem senhor.

Por isso é que eu aprendi meus cabelos loiros com um lenço vermelho,
Alcei ao ombro o meu fazil
E me pus a caminho, naquela tarde.

Que diria de mim a geração que virá
Que não conhecerá escravos nem senhores,
Se eu ficasse à espera dêle, de mãos cruzadas, como uma escrava,
Enquanto o sangue redimia a terra? 

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1 comentários

  1. Parabéns pelo blog, seu pai e meu avõ será sempre eterno, pois está sendo sempre lembrado pelos seus poemas. As palavras escritas jamais será esquecida.
    Elizabeth

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