A UM PARNASIANO
10:34Não tenho, como tu', a alma de grego.
Tenho a alma de um barbaro indomito,
Crestada de sol, batida das intemperies.
Não posso levar minhas emoçoes para a casa,como tu
(fazes,
Porque eu não resistiria trazer dentro de mim essa tor-
( menta,
E explodiria, com certeza,si guardasse dentro de mim
( esse vulcão imenso
Minha poesia vem como o anatema dos profetas:
Indomita, louca, sem peias, desatinada.
Salta na mesa do café. Sobe com a fumaça do meu
( cachimbo.
Brilha na espuma da cerveja,
Sai dos meus labios, rispida e barbara, como meu gritos
( de amor e sofrimento .
Eu tenho todas as dores humanas dentro de mim:
Gritam operarios caidos dos andaimes.
Gemem meninos com fome.
Abençoam mães martirizadas.
Amaldiçoam prostitutas bebadas.
Que rima em acharia para essa tormenta poetica ?
Que metros meus dedos poderiam contar para esse tur-
( bilhão emotivo?
Não.Minha poesia não é como a tua, a flor cuidada nos
( interiores silenciosos.
Minha poesia é aquele cardo selvagem de Manuel Ban-
( deira,
Que as mãos do homens nunca podem tornar delicado.
Não tenho com tu', a alma de grego.
Tenho a alma de mongol.
Não nasci vendo o céu sereno e o mar azul.
Nasci recebendo na face a chicotada de neve das ste-
( pes imensas.
Tu' contornas teus versos de marmore com o cinzel deli-
(cado,
Como se fizessem colunas para salões fidalgos,
T'u facêtas teus versos de oiro com o buril,
Como se eles fossem um mimo de Celini para as mãos
( das princezas.
Os meus versos eu os atiro a êsmo nas faces dos maus.
São blocos de pedras que eu tiro da alma com martela
(das fortes,
Para construir, com a argamassa do sangue e das lagri-
(mas,
O grande monumento, disforme e rude, ao sofrimento
( universal.
Não. Eu não tenho, como tu' a alma de grego...
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