QUE O CORAÇÃO DIGA TUDO

05:26

Quando na tua mão, suspenderes a pena
Para a gloria maior de versejar,
Brote dela a Verdade, impávida e serena,
Como uma fonte clara e limpida a jorrar...

Si o luar não se embebeu no teu olhar nevoento,
Si,para o céo, tu nunca abriste o teu olhar
Nunca fales de céo nem de luar,
Pois teus versos serão ermos de sentimento.

Si nunca amaste, não profanes nunca
A falar de paixões mentirosas:
Jamais digas que a dor a tua estrada junca
Si calças aos teus pés um tapete de rosas.

Seja a verdade o teu dilema, o teu mistér,
Nada mais te adianta. Que ha de sêr de
Ti, que ainda cres morar a fama na côr verde
Da cabeleira, como Baudelaire ?

Poeta, o teu ofício é contar a verdade:
Cantar as maguas como uma ave calma,
Para que as almas dos que não  teem alma
Ganhem, um dia, o grande dom de ter piedade.

Teu  oficio é fazer vibrar fibra por fibra
O coração de alguem que nunca soube amar,
E chorando, ensinar,-alma de harpa que vibra,
Aos que não choraram nunca, a graça de chorar.

Quando na tua mão suspenderes a pena
Para a gloria maior de versejar,
Brote dela a piedade,-- a linfa clara e amena-
Branca,de alvo palôr, dôce como a luar.

Um dia, hão de ler.Si mentires no oficio,
A'esmo dizendo o que não tens no coração,
Ler-te-ão na algidez da fria indiferença:
Nunca terás o pranto em recompensa,
Nunca terás em recompensa a gratidão.
E de que te valeu tão duro sacrificio ?

Mas, si fores sincero, um dia, alguem
Que ha de te ler, tendo nos olhos a ansiedade,
Sentirá mais profunda e mais triste a saudade,
-Fada bôa que traz, nas maõs do mal, um bem.

E, entre teus versos, acharás, um dia,
Uma pálida pétala fanada
-Lembranças da alma que te leu, amargurada,
Quando o sol triste e pálido morria...

Tantos versos de dôr que deixaste dispersos ! ...
Acharás,- premio bom ao tormento infinito-
A nodoa de uma lágrima entre os versos
Que arrancaste, a chorar do coração aflito.

Por isso, Poeta, escuta: - Quando a pena
Tu suspenderes para versejar,
Dela brote a Verdade impávida e serena,
Dela mane a Piedade a linfa clara e amena,-
Branca, de alvo palôr, doce como o luar...

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1 comentários

  1. Amigos, a força da poesia tem apresentado ao longo do tempo e através da cultura, uma necessidade comum do coração e da alma humana.
    Esse poeta autor de "Que o Coração diga Tudo'é bom, vou colocar este blog na relação dos especiais. Veronica Silva e Silva. Niteroi RJ.

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